sábado, 2 de agosto de 2008

Mais um dia

Chronos
Agora o tempo passa rapido. Minha viagem esta em uma contagem regressiva que comeca hoje no dez e aos poucos chegara ao zero. Comeco a pensar as coisas que ainda tenho que ver e as horas parecem insuficientes. Engracado como a situacao pode sempre se reverter...

... ou ser inversa -- tenho passado o tempo com os voluntarios que conheci por meio da Delphine e me parece que eles, ao contrario de mim, nao aguentam mais estar sempre com alguem e tudo o que querem e estar sozinhos. Nao sai da minha cabeca a imagem da Libra do zodiaco, uma grande balanca que pende ora para um lado, ora para o outro, e sempre buscamos o equilibrio dos seus pratos de ouro.

Criancas
Eu nao havia falado nada sobre as criancas da Cisjordania porque queria, antes, conversar com a Ana e a Eli -- que sao professoras de espanhol e lidam com essa idade constantemente. Lhes perguntei se e normal que uma crianca daquela idade bata em voce e cuspa na sua cara quando voce tenta conversar com ela. Elas me disseram que de forma alguma -- o normal e que elas fiquem envergonhadas quando estrangeiros entram em suas salas de aula com cameras fotograficas.

Fico pensando porque, entao, aquelas criancas agiram tao agressivamente quando nos viram. Sera que estao cansadas de se sentir num circo, cercadas por pessoas que se apiedam delas? Ou sera que nao podem gastar a energia que tem, ja que as ruas sao campos de batalha? Ou sera que tudo o que receberam ate hoje foi violencia verbal e fisica e essa e a unica linguagem que conhecem? Talvez queiram mostrar como sao fortes, como sugeriu a Eli. Nao sei. Mas tenho medo do que pode acontecer quando essas criancas se tornem adultas e seus punhos nao sejam mais de brinquedo -- sejam misseis qassam e metralhadoras semi-automaticas.

De volta a casa
Nao sei porque me sinto tao bem em Jerusalem. O tempo passa tranquilo, aqui, e sempre ha uma novidade a se ver -- hoje fui a Igreja do Santo Sepulcro pela terceira vez e descobri novos locais e novas experiencias. Sinto que a cidade e para ser vivida, e nao visitada, e me frustra saber que vou embora com uma impressao muito ingenua de tudo o que vi.

A Ana e a Eli disseram uma coisa bonita hoje de manha. "Quando voltei a Jerusalem me senti como se estivesse voltando para a minha casa". E mais ou menos o que sinto, tambem.

Convento
Estou dormindo estes dias no Convento das Irmas de Siao. Tenho um cubiculo muito agradavel e uma varanda com uma vista incrivel, alem de cafe da manha. Nao sinto falta do antigo albergue no portao de Jaffa -- nem das baratas insistentes que la habitam.

A holandesa
A Soskia faz parte do grupo de voluntarios e estava me contando sobre os seis meses que morou em Polvilho (zona oeste de Sao Paulo). Ela fala um pouco de portugues e morre de saudades da nossa comida. Falamos de feijoada, pao de queijo, leite condensado, churros, suco de fruta natural, doce de leite, brigadeiro, tapioca, pirarucu... e de repente me deu uma vontade louca de nunca mais comer pao com homus e falafel.

Jerosolimita
Quando comecei a pensar na viagem -- e no projeto de graduacao que deve ser consequencia dela -- meu plano inicial era passar um mes em Jerusalem e viver o cotidiano da cidade para, entao, me sentir um autentico jerosolimita. Hoje, almocando com a Ana e a Eli, sentados numa sombra qualquer e conversando sobre a vida, finalmente senti essa faisca de cotidiano maravilhosa -- comeco a sair da fantasia de turista e experimentar a cidade de outra forma.

Comprei docinhos arabes de pistache e, em dez minutos, vou subir as ruas que agora tao bem conheco -- nao me perco mais -- e sentar-me com as duas para come-los. Depois, queremos andar pelo mercado e talvez comprar coisinhas. Uma tarde agradavel (me lembro da frase da Mrs. Dalloway -- "como acordar de manha na praia").

Nenhum comentário: