segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Fim

OK, estou com o coracao na mao.

Ontem, depois de postar aqui, encontrei o Gabriel. Jantamos, conversamos e fomos a um hotel, porque ele precisava dar uma entrevista para um estudante brasileiro de jornalismo que esta fazendo um documentario sobre a percepcao do conflito arabe-isralense na midia. Em seguida, cerveja.

Voltei a pe para o albergue dando as ultimas olhadelas para a praia de Tel-Aviv. Nao quis dar um clima de despedida a cena, como eu nao dei a Jerusalem e a nenhum outro lugar em que estive. Talvez porque eu tenha a nitida impressao de que vou voltar para ca -- nao sei se em breve, mas algum dia.

Pois e. A viagem acabou. Depois de mais de seis meses de preparacao, de muitos livros devorados, de pensar e pensar e pensar a respeito, de conversar com um montao de pessoas -- depois de tudo isso, tive esses 35 dias por aqui, e entao cito Hamlet: o resto e silencio.

Sera?

Do dia 14/7 a 10/8 (periodo em que monitorei o blog pelo Google Analytics) tive 1095 visitas aqui. Pessoas do Brasil, Italia, Israel, Marocos, EUA, Canada, Tailandia, China, Franca, Reino Unido, Emirados Arabes, Japao, Iraque, Jordania, Portugal, Holanda e Alemanha deram uma olhada no que escrevi.

Os numeros podem nao ser grande coisa, comparados a grandes blogs. Mas ja me deixa imensamente feliz, e quero agradecer a todos pelo carinho. Nos dias dificeis me fez muito bem ver os comentarios de voces.

Nao quero avaliar a experiencia da viagem com hiperboles e superlativos. A maior? A melhor? A mais completa? Insuperavel? Nao gosto de usar essas palavras-limite. O que sei e que foi incrivel e que deixou um gostinho muito bom. Tenho certeza de que vou desligar o computador daqui a cinco minutos, embarcar nesse aviao e, quando chegar ao Brasil, chegarei uma pessoa nova.

E na memoria vao ficar por muito tempo os bons momentos -- encontrar a Ingrid na estacao Termini de trem, em Roma; um por-do-sol em Jerusalem, com a Delphine, a Ana e a Eli; cafe turco nas margens do Rio Jordao com o Yuval e seus amigos; e Tel-Aviv nas minhas tres paradas aqui, essa cidade-labirinto; o vinho branco no terraco do hotel do Cairo vendo as Piramides com a familia Myler; tremer enquanto esperava o sol nascer no Monte Sinai; ver o John tocar as musicas que compos no violao, em Eilat; assistir ao Indiana Jones em Petra com o casal Australiano; reencontrar a Delphine e andar descalcos na areia da praia; visitar a Cisjordania com os voluntarios; ler Tolkien no telhado do Convento das Irmas de Siao; o cafe da manha no convento, sempre igual, torrada e sucrilhos; andar de moto com o Gabriel nas ruas de Tel-Aviv; sentir o vento do Mediterraneo nas muralhas de Akko com o Joe; visitar Caesarea sozinho; uma ultima cerveja em Tel-Aviv e um ultimo por-do-sol na Terra Sagrada... e... e...

Por-do-sol em Tel-Aviv

Suspiro.

Ja estou com saudades.

Fotos de Caesarea

Restos do porto dos Cruzados que afundou com um terremoto

Ruinas na praia

As torres da usina eletrica de Hadera competem com as colunas romanas, na paisagem

Adoro cidades antigas na beira do mar... Fico olhando o horizonte e imaginando os navios chegando aos montes

Aqueduto romano -- trazia agua de 7km de distacia ate Caesarea

O mais triste e tirar foto de voce mesmo usando o cronometro da maquina fotografica

Caesarea

Eu tinha dois possiveis planos para hoje: ou descansar, ou ir para Caesarea. Como pensei que eu fosse me entediar se nao saisse de Tel-Aviv, viajei.

Foi bacana. Exceto pelo fato de que levei 30min do albergue a estacao de onibus, esperei por 30min o onibus para Hadera, fiquei 1h ate chegar a Hadera, esperei por mais 3h30 o onibus para Caesarea e entao demorou mais 1h para chegar la. Sim, no total demorei MUITO tempo, nem quero fazer a soma.

Valeu a pena, de qualquer forma. Caesarea e uma cidade repleta de historia. Foi um importante porto fenicio, depois se transformou na cidade de Herodes nomeada "Caesarea" em homenagem a Roma, foi conquistada pelos bizantinos, pelos cruzados, pelos arabes, pelos mamelucos e, finalmente, pelos otomanos. Por todos os lados e possivel encontrar ruinas destes antigos imperios -- adoro essa sensacao de estar dentro da historia em diversas epocas simultaneamente.

Dentre as ruinas, nenhuma era mais impressionante que os gigantes aquedutos romanos na beirada do azul Mediterraneo. Incrivel! Esta vai ser a imagem que guardarei de Caesarea na minha memoria (enquanto ela nao me falhar...).

Tambem ha em Caesarea um teatro, um hipodromo, um porto em ruinas, colunas antigas... O unico problema e que depois de conhecer o Forum Romano no comeco da viagem fica meio desleal eu querer comparar qualquer ruina dos romanos aqui em Israel.

Bom, acho que e isso. Queria colocar as fotos, mas estou no computador sem USB. Prometo tentar amanha cedo, antes de ir para o aeroporto. Agora vou tomar um bom banho -- estou estressadissimo porque alguem roubou o meu shampoo ontem e tive que comprar outro!

Nos vemos amanha no ultimo post!

domingo, 10 de agosto de 2008

Ultimos dias

Sexta-feira
Bom, faz tempo que nao escrevo bastante aqui. Mas imaginem so que os ultimos dias nao tem sido muito produtivos -- ainda bem!

Na sexta-feira nao fiz nada de excepcional. Fui a praia, almocei, li e tive a ideia idiota de ir ao cinema. Pensei que, uma vez no Dizengof Center (shopping center enorme na Dizengof Street), eu nao perceberia a tristeza do shabbath -- mas me enganei.

Depois que comprei o ingresso, todas as lojas fecharam, os caffes recolheram suas cadeiras e fiquei 3h sozinho no shopping esperando o filme comecar, sentado em uma cadeira do Mc Donnald's (a unica que nao tinha sido recolhida, porque esta pregada no chao). No comeco pensei que iria surtar e me atirar da janela, mas a janela estava selada por causa do ar condicionado e eu passei meu tempo lendo o ultimo livro que comprei -- The Adventures of Alice in Wonderland (Lewis Carrol).

Sabado
O sabado foi mais bacana. Nadei na praia aqui de Jaffa a manha inteira, tomei sol e depois comprei paes arabes e homus e almocei no telhado do albergue. Em seguida, encontrei o Eugenio -- italiano de 24 anos, assistente de fotografo, tem um sotaque engracado e nunca encontra as palavras que quer usar, em ingles.

O Eugenio foi meu amigo numero 30 durante a viagem, se nao estou enganado. Quase um por dia. Nao vou nem dissertar aqui sobre o efeito que essas amizades relampagos tem em mim...

Enfim. Fomos ao cinema assistir a um filme italiano (Caos Calmo) muito bacana e, depois, o Eugenio seguiu seu caminho para Haifa e eu encontrei a Helen -- voluntaria irlandesa, 29 anos, havia conhecido ela em Jerusalem por meio dos outros voluntarios.

A Helen e muito bacana. Jantamos juntos em um pub (ja me disseram que isso e pouco criativo, em se tratando de uma irlandesa) e tive uma das poucas boas refeicoes da viagem. Ela esta ansiosa porque amanha de madrugada vai voltar para a Irlanda e tem medo dos checkpoints nos aeroportos -- ja disse aqui que a Delphine teve que tirar a roupa quando estava indo para a Franca, ne?

Domingo
Hoje, enquanto a Helen passava o dia fazendo compras e recebendo uma boa massagem relaxante no seu hotel, fui conhecer Haifa, cidade ao norte -- 1h de trem, a partir de Tel-Aviv.

Adorei. Cidadezinha bastante elegante e agradavel. E tem o que falta em Tel-Aviv -- paisagem. Haifa foi construida nas marges do Mediterraneo, na lindissima Baia de Acre (do outro lado da baia e possivel ver Akko, cidade dos posts anteriores) e nas montanhas de Carmel.

Nao importa onde voce esta em Haifa, as chances de voce conseguir enxergar o Mediterraneo sao grandes. E sempre sopra aquele ventinho gostoso do mar que, em Tel-Aviv, e barrado pelos predios construidos sem planejamento no comeco do seculo passado.

Ha um ditado israelense que diz algo como "Tel-Aviv brinca, Jerusalem reza e Haifa trabalha". Nisso, acho que a cidade pode ser comparada a Sao Paulo. Mas talvez so nisso.

Como eu nao estava com pressa de nada, resolvi fazer tudo a pe, apesar dos conselhos de tomar taxis e onibus. A primeira caminhada foi ate a entrada dos Jardins Bahai -- um santuario da crenca Bahai, surgida no sec. 19 no Ira a partir do islamismo. Sao 18 terracos maravilhosos, uma especie de Jardins Suspensos da Babilonia.

O santuario localizado no meio do jardim e o segundo local mais sagrado para os bahais, o primeiro sendo uma casa em Akko que eu infelizmente nao visitei.

Nos jardins, estao plantadas cuidadosamente diversas plantas, das quais so consegui reconhecer os flamboyants (que nao estavao floridos, uma pena!), as primaveras, os hibiscos e os ciprestes. As cores predominantes eram o verde, o branco, o vermelho e o roxo. Bonito pra caramba.

Nos Jardins Bahai, a palavra "shalom" (paz), tanto usada em hebraico, faz todo o sentido. O lugar e vazio e silencioso, bastante propicio para sentar-se e pensar na vida. Silenciosos tambem eram os jardineiros negros -- imigrantes etiopes?

Carmelitas
No topo do Monte Carmel esta o monasterio de Stella Maris, a sede da ordem dos Carmelitas -- cristaos que viviam como eremitas nas montanhas em que, segundo a Biblia, o profeta Elias venceu os sacerdotes de Baal.

O monasterio e pouco impressionante, mas a vista e incrivel. Aproveitei para almocar em um bom restaurante enquanto olhava para as aguas azuis lambendo a praia de Bat Galim ("filha das ondas", em hebraico).

Perspectiva
Amanha e meu ultimo dia em Israel. Vou deixar as ultimas conclusoes a respeito da viagem para a manhazinha de terca-feira, antes de pegar o aviao. Agora so quero encontrar a Helen para um ultimo cafe e andar na praia a noite, sentindo a brisa gostosa bater no meu rosto.

Haifa

Um banquinho com vista para o Meditterraneo

Caverna de Elias

Vista dos Jardins Bahai

Jardins Bahai

Adorei essa foto meio geometrica

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Fotos -- finalmente

Neste ponto das muralhas de Akko as criancas pulam na agua para se refrescar

Ah, o Mediterraneo...

A lembranca que fica do Joe e esta imagem constante -- ele atras das lentes de sua camera

Adoro cidades antigas na beira do mar -- como Akko

Mesquita em Akko

Do lado de fora da muralha de Akko

Tel-Aviv vista da cidade antiga de Jaffa

Sobre as fotos

Meu pai me perguntou porque nao estou colocando fotos -- o computador aqui do albergue nao tem USB. Mas hoje a tarde vou tentar fazer isso de algum lugar em Tel-Aviv, se minhas pernas conseguirem me carregar pelas ruas depois de tanto caminharem ontem.

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Akko

Ontem eu e o Joe acordamos cedo e fomos visitar uma das cidades que me fez vir ate Israel -- Acre (ou Akko, em hebraico). Akko tem uma historia longa que remonta aos fenicios, ao rei Herodes e a muitos outros episodios. Mas o mais notavel, para mim, e que foi a capital dos cruzados europeus enquanto estiveram no Oriente Medio.

Essa coisa de cruzados sempre me emocionou muito. Quando li Jerusalem (Karen Armstrong), minha parte predileta foi, certamente, a que falava dos primeiros reis europeus na Terra Santa, das guerras e, entao, da conquista de Akko pelos mamelucos...

Fico imaginando um exercito de cruzados chegando no deserto, a beira do Mediterraneo, vestindo armaduras completas, elmos com crina de cavalo, carregando cruzes gigantes, segurando espadas forjadas nas melhores bigornas da europa. E claro que e uma visao romantizada, mas nao deixa de ser uma ideia incrivel.

Foi sentado em uma das muralhas de Akko, com o vento do mar baguncando meu cabelo, que pensei em tudo isso. Imaginei a historia que nao vi, e gostei do resultado. Me lembrei de mim e do Andre deitados no chao em Santo Antonio do Jardim discutindo acontecimentos historicos -- como seria faze-lo ali, onde o coracao da Historia bate tao forte?

Akko me lembrou de Jerusalem, talvez porque a populacao da cidade e bastante arabe tambem la. Mas as ruas me parecem menos turisticas e, portanto, mais autenticas. A cidade nao e tao conhecida dentre os turistas e certamente nao e um local para peregrinacao, o que da uma calma maravilhosa ao local.

Nao que isso signifique que a cidade me interesse mais que Jerusalem... Jerusalem vai ser sempre a minha predileta. Nao consigo pensar em uma cidade que me encante mais, hoje.

Nao ha muito o que falar sobre Akko, em termos de monumentos ou pontos historicos importantes -- como costumo fazer com os locais que visito. Caminhamos em tuneis antigos dos cruzados, visitamos ruinas, mesquitas arabes, uma prisao da epoca do dominio ingles na regiao... Mas o gostoso mesmo foi estar na beirada do Mediterraneo, olhando o azul do mar e sentindo o passar do tempo enquanto o vento sacodia a areia da praia.

Ontem a noite eu e Joe fomos ao cinema assistir Married Life. Ja nem ligo em ter que ver filme em ingles, sem legenda -- tudo tem acontecido em ingles na minha vida ha mais de trinta dias. Voltamos as 0h a pe pela praia lotada de pessoas fazendo piquenique, churrasco e rodinha de violao. Em Jaffa, as ruas ferviam e o comercio ainda estava aberto -- quinta-feira a noite, vespera de shabbath, e como se fosse a sexta-feira a noite dos judeus.

Bom sentir a vida fluir aqui...

Encontros e desencontros

Na praia
Anteontem na praia eu e a Diana estavamos voltando do nosso jantar quando alguem surgiu na nossa frente gritando para mim com um ingles com sotaque arabe -- "I know you, sir, from Jerusalem! I know you!".

A Diana saiu correndo, mas fiquei parado sem saber o que fazer. Quando vi, era o dono do internet point que usei durante os meus dia sem Jerusalem -- um simpaticissimo palestino que sempre me dava descontos, ja que eu devo ter sido o melhor cliente da temporada (a julgar pelo numero de posts aqui no blog...).

Fico pensando no numero de pessoas que ja conheci nesta viagem, cada um tao diferente do outro. Um bom retrato da diversidade do mundo -- e, ainda assim, um retrato incompleto e insuficiente. Vou levar comigo um pouquinho de todos eles, e ter dentro de mim lembrancas cosmopolitas do conjunto que eles formam dentro de mim, uma mesma experiencia dividida em varias.

No albergue
Ontem conheci o alemao Joe (este e o apelido dele, porque eu nao sei soletrar o nome alemao cheio de consoantes dele). Ele se formou em ciencia da computacao e hoje mora na ilha de Creta, na Grecia. E bastante simpatico e tem olhos bastante intensos. Me parece um cara apaixonado pela vida e esta sempre com a camera reflex nas maos -- me mostrou fotos de Atenas, ate uma cenoura esquecida no chao ele fotografou.

Curioso que eu nao tenha ficado sozinho mais nenhuma vez desde que tanto reclamei da solidao. Ou aprendi a me virar ou o universo ficou com peninha de mim. Tanto faz -- assim esta otimo.

Novo livro
Terminei The Children of Hurin (Tolkien) e comprei, em seguida, Memoria de Mis Putas Tristes (Gabriel Garcia Marquez). Engracado -- pensei que nao leria nada, na viagem. Se soubesse que ia ser tao produtivo estar aqui eu teria trazido Dom Quixote, porque tenho uma prova sobre o livro em algo como vinte dias. E nem comecei a ler.

Na praia -- mais uma vez
O jornalista Gabriel, do blog Carteiro sem Poeta, entrou em contato comigo comentando em um post do meu blog. Ontem nos encontramos na Clock Tower de Jaffa e tomamos uma cerveja enquanto descobriamos quem era o outro -- ele e um talentoso menino de 29 anos que mora em Tel-Aviv ha 4 e, antes de vir para ca, morava no mesmo bairro em que moro hoje, no Brasil.

De moto, fomos ate um bar na praia e passamos um bom tempo conversando. Foi bom falar em portugues, e falar sobre jornalismo e sobre a vida. Quanto a andar de moto... Bom, foi a segunda vez na minha vida (a primeira foi com meu pai, ha algo como dez anos) -- gostei. Vai ser dificil esquecer o vento no rosto enquanto seguiamos pelas ruas de Tel-Aviv, com o mediterraneo ao nosso lado.

O Gabriel escolheu um caminho para a vida dele que talvez um dia eu escolha -- o de correspondente internacional. Talvez, talvez. Para ele, a escolha parece ter dado muito certo. Mas como podemos medir as nossas proprias chances de sucesso?

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Noticias do mundo de ca

Hebron
Nos ultimos dias confesso que estava com um pouco de preguica de escrever aqui. Estou viajando ha quase trinta dias, ne? Mas de qualquer forma nao vou deixar de registrar a minha viagem, ainda mais agora que estou na reta final -- a contagem regressiva esta em seis dias.

Na segunda-feira, como ja escrevi rapidamente dois posts atras, fui acompanhar alguns trabalhos do Comite Internacional da Cruz Vermelha em Hebron, cidade mais conflituosa da Cisjordania -- area ocupada por Israel na Guerra dos Seis Dias, em 1967.

O que faz de Hebron um caso excepcional de conflito e que os assentamentos israelenses estao literalmente enfiados no meio do territorio palestino. Por exemplo -- visitei Wadi Al-Ghrouz, um vale cercado pelos assentamentos de Givat Harsina e Kiryat Arba, o que significa que as estradas estao bloqueadas para os palestinos por questoes de seguranca.

Nao so as estradas sao proibidas para os palestinos -- conversei com um morador cujas arvores estao em uma buffer zone, cinturao de seguranca em volta de um dos assentamentos. Ele nao pode colher suas frutas e assiste dia apos dia as suas frutas apodrecerem ou serem colhidas por colonos.

Eu estava la em Hebron acompanhado de outro jornalista, o norte-americano Shabtai, da agencia de noticias da ONU. Foi uma experiencia bacana conversar com ele, ja que ele mora ha seis anos na regiao e aprendeu, nas ruas, a falar hebraico e arabe.

Agora, as historias deste dia prefiro que voces leiam quando minha materia for publicada. Eu aviso voces e coloco o link aqui no blog assim que possivel.

Tel-Aviv

Voltei para Tel-Aviv, e estar aqui e sempre um desafio para mim. Nao posso me esconder por detras de ruinas arqueologicas ou de fatos historicos, mas preciso experimentar esta cidade de menos de 100 anos de idade.

Mas estou aprendendo a gostar daqui. Como o Yuval disse no almoco de ontem -- comemos em um restaurante etiope --, Tel-Aviv e uma cidade excepcional, apesar de nao ser unica, como Jerusalem.

Excepcional e um bom adjetivo para descrever a rua Allenby, com seus sebos, ou a movimentava rua Dizengoff, ponto de encontro de jovens. Ou as praias repletas de surfistas em que, de manha, os mais saudaveis praticam ioga. E o mercado de Jaffa, com velhos israelenses jogando cartas em mesas improvisadas na rua, ou o mercado de Carmel repletos de frutas e roupas baratas.

Ontem jantei com a Diana, argentina de 21 anos que estuda sociologia em Buenos Aires. Ela veio para Israel com o programa de Birthright, que traz descendentes de judeus ao pais. Sua mae e catolica e seu pai e judeu, mas ela nao recebeu comunhao e nem comemorou o bar-mitzvah -- se sente sem religiao e nao sabe o que pensar sobre Deus. Acha que, a essa altura da vida, ja deveria ter uma resposta a respeito da questao -- eu acho que, pelo contrario, e maravilhoso que ela ainda esteja em duvida.

Hoje tomei sol, lavei minhas roupas e comprei mais um livro. Pensei em ir, a tarde, ate o museu de artes de Israel, mas estou com preguica de sair do albergue neste sol. Meu corpo ja esta entrando o ritmo da volta ao Brasil, imagino, e perdeu a paciencia de passar o dia inteiro andando de um lado para o outro. Bom.

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Take it easy

Todo mundo vive me dizendo para relaxar um pouco. Entao vou relaxar. Hoje e meu dia de folga do blog! Vou sair do computador e jantar em Tel-Aviv com a Diana, uma mochileira argentina que conheci ha cinco minutos. Amanha faco a ficha tecnica dela e dou detalhes dos ultimos dias. Boa terca-feira para voces!

Desculpas

Nao, nao me esqueci do blog! Mas o dia de ontem foi bastante movimentado. Visitei Hebron acompanhando uma missao da Cruz Vermelha. Mas nao quero falar muito sobre isso, porque estou escrevendo uma materia a respeito para o jornal. Assim que estiver tudo fechado, coloc o texto aqui -- combinado?

So posso adiantar que foi uma experiencia interessantissima e muito rica.

Hoje, vou almocar com o Yuval e, depois, ir para Tel-Aviv. O que significa adeus a Jerusalem. Me sinto como se estivesse deixando minha cidade natal.

domingo, 3 de agosto de 2008

Fotos da Igreja do Santo Sepulcro

Fachada da Igreja

Teto da rotunda enfeitado com lampadas (gregos ortodoxos)

Entrada da tumba de Jesus (gregos ortodoxos)

Teto do Umbigo do Mundo (gregos ortodoxos)

Capela Jacobita (sirios)

Local da crucificacao (gregos ortodoxos)

Capela do Arcanjo Miguel (etiopes)

Escada imovel ha quase duzentos anos na fachada da Igreja

Monges etiopes no telhado da Igreja

A Igreja do Santo Sepulcro - rapidinhas

Introducao
Jerusalem esta repleto de locais sagrados para as tres religioes abrahamicas, alem de diversos santuarios de diversas variacoes dessas crencas. Nao seria possivel conhece-los e muito menos descreve-los a todos com pouco mais de dez dias de convivencia na cidade. Mas acho que e possivel apresentar aos leitores a Igreja do Santo Sepulcro, um dos meus lugares favoritos da cidade -- e o que mais visitei (hoje foi a quarta vez).

A Igreja do Santo Sepulcro foi construida a mando do imperador bizantino Constantino, no quarto seculo depois de Cristo. Sua mae, Santa Helena, era uma crista fervorosa e havia viajado a Jerusalem, onde encontrou a Cruz e o local da crucificacao, apos supervisionar as escavacoes no monte Golgota. Ha diversas controversias a respeito da autenticidade do local, mas fato e que tem sido visitado por peregrinos ha quase 2.000 anos, o que por si so ja e um motivo historico importantissimo.

Hoje, a Igreja do Santo Sepulcro esta dividida entre seis divisoes do cristianismo -- coptas, sirios, armenios, etiopes, romanos e gregos. Cada um tem o seu local e seus horarios de culto, o que, infelizmente, nem sempre e seguido, resultando em conflitos muitas vezes violentos. E foi por causa das disputas que, no inicio do segundo milenio d.C, os muculmanos (que entao governavam a cidade) tomaram para si as chaves da Igreja e ate hoje a mantem.

Resultado do fato de que as areas comuns a todas as divisoes nao podem ser modificadas sem consenso de todos, ha desde o sec. XIX uma escada em uma das janelas da fachada da igreja. Sua posicao continua a mesma ha quase duzentos anos.

Telhado
Os etiopes, ultimos na divisao da Igreja, ficaram com o menos importante tambem -- o telhado. La, as portas sao pintadas de verde e a tinta esta descascando. Padres etiopes descansam na sombra dos muros e das arvores, e em um canto sinos da epoca dos cruzados enferrujam por descaso.

Pelo telhado e que se entra na capela etiope, com escrituras em geez (lingua sagrada etiope) e um quadro representando o encontro da rainha de Saba com o Rei Salomao -- a familia real etiope descenderia da uniao do casal. A iluminacao e fraca e vem de um unico lustre aceso e algumas velas espalhadas no espaco pequeno e delimitado por uma grade de ferro. Um altar vermelho se ergue em um dos cantos, solitario.

Pedras escorregadias levam ao andar inferior, a Capela do Arcanjo Miguel. As 16h (inverno) ou 17h (verao), la sao celebrados cantos etiopes cujo som e estranho a ouvidos nao iniciados. As paredes nao tem acabamento, e algo que se adivinha ser uma pintura enfeita o teto em ruinas.

A Igreja
Saindo da Capela do Arcanjo Miguel logo se esta na entrada da Igreja do Santo Sepulcro, proximo ao tumulo de Phillip D'Aubgny. Outros tumulos de reis europeus estao aqui, como o de Balduino. Mas ha muitas outras coisas tambem, e para descrever a totalidade do local eu precisaria de muito mais talento e tempo. Vou me ater aos recintos mais importantes ou curiosos.

Subindo as escadas a direita, chega-se ao local da crucificacao de Jesus Cristo -- a pedra de Golgota, onde estaria enterrada a caveira de Adao. O local e mantido pelos gregos ortodoxos, o que significa muitas lampadas penduradas no teto, muitas velas acesas e mosaicos e pinturas dourados por todos os lados -- a decoracao e bastante ostensiva.

Descendo as escadas, bem abaixo do local da crucificacao esta a Capela de Adao, onde e possivel ver uma rachadura na pedra de Golgota -- supostamente a causada pelo terremoto que seguiu a morte de Jesus.

Rotunda
O local mais importante da Igreja e a Rotunda, onde esta o tumulo de Jesus Cristo e um pedaco da Pedra do Anjo -- que teria selado a tumba, quando foi enterrado. A area circular rodeada por pilares gigantes com cruzes, embaixo de uma cupula enfeitada com estrelas e com entrada para a luz do sol, e administrada por romanos, gregos e armenios. Mas a tumba em si fica a encargo de um sacerdote grego ortodoxo vestido de preto dos pes a cabeca.

Dentro do santuario erguido no centro da Rotunda, onde estao a pedra e o tumulo, o espaco e apertado e tem um cheiro forte de parafina. A fila e grande e o tempo permitido no recinto e curto.

Copta
Atras do tumulo, ha um pequeno santuario copta (algo como 2m quadrados). Alem de pequeno e lotado de pequenas coisas -- velas e cruzes a venda, retratos de personalidades coptas, gravuras, mosaicos... E um monge copta com barba longa e um capuz enfeitado com cruzes, e uma cruz prateada pendurada no pescoco com uma longa corrente de ferro.

Ruinas
Proxima ao santuario copta esta a Capela Jacobita, administrada por sirios (que nao estao, alias, na divisao original). O descaso e chocante. O teto esta mofado, o chao rachado e o altar no centro da pequena gruta se despedacou ha muito tempo e nunca foi restaurado. Um buraco na parede leva ao tumulo de Jose de Arimateia, administrado por abssinios.

Umbigo
Na entrada do tumulo e da pedra do Anjo esta o espaco amplo do Umbigo do Mundo -- considerado antigamente como o centro do planeta, dada a importancia religiosa dos sitios ali contidos. No teto, uma cupula com mosaicos dourados se destaca. Esta sob responsabilidade dos gregos.

Monges
Aos cuidados dos monges franciscanos esta uma pequena e humilde capela cujo altar consiste numa mesa -- o mosaico, ao fundo, traz temas abstratos em azul. Em uma prateleira estao 14 pequenas estatuas de ferro, uma para cada Estacao da Cruz -- desde a condenacao a crucificacao.

Sombras
Os corredores que ligam os espacos da Igreja sao escuros e sombrios. As vezes o observador atento encontra uma pintura desgastada ou esquecida -- as areas de administracao coletiva nem sempre sao restauradas, porque o consenso as vezes nao e possivel ou demora tempo demais.

Grupos de padres e monges caminham pelos corredores cantando e fazendo suas oracoes, deixando um rastro de incenso bastante agradavel.

Em algum lugar da Igreja esta a prisao de Cristo, com teto baixo pouca luz. Os gregos tomam conta dela.

Embaixo da terra
No subterraneo estao dois outros locais de importancia religiosa e historica. Trata-se da Capela da Santa Helena, dedicada aquela que teria descoberto a cruz e o local da crucificacao, e entao a Capela da Descoberta da Cruz -- a primeira esta com os armenios e a segunda, com os romanos.

A Capela da Descoberta da Cruz esta metade esculpida nas pedras de Golgota e sua simplicidade arranca admiracao do visitante. O local e escuro e a pedra se mantem majestosa, como um registro do tempo.

Perder-se
A Igreja do Santo Sepulcro e um local para ser visitado, e nao lido. Tive a chance de passar por la quatro vezes -- na primeira somente observei, na segunda me perdi pelos corredores, na terceira fui o guia dos voluntarios e, na quarta, caminhei com um bloquinho na mao anotando o que me interessava.

Ainda assim, sinto que falta muito o que ver e entender. E mais ou menos a sensacao que tenho a respeito de Jerusalem, esta cidade de que nao me canso. Estou um pouco triste por ter que deixa-la, na terca-feira, quando eu rumar para Tel-Aviv.

Vista do Convento das Irmas de Siao

Baboker (a tarde, em hebraico)

Balaila (a noite, em hebraico)

Shoah

Ontem tive um fim de tarde agradabilissimo no terraco do Convento das Irmas de Siao -- onde estou dormindo essas ultimas noites. Tenho vista para o Domo da Rocha e, no terraco, passei algumas horas lendo e pensando na vida.

Hoje o dia foi bastante tranquilo. Fomos eu, a Jordan (EUA), a Helen (Irlanda) e a Valerie (Belgica) para o Museu do Holocausto, onde ficamos por 2h petrificados com a interessantissima -- mas assustadora -- exposicao. A cada sala em que entrava as lagrimas chegavam a beirada dos meus olhos. Mas qualquer coisa que eu diga sobre o holocausto vai soar ingenuo, eu acho.

Na entrada do museu, um adolescente segurando um rifle enorme me perguntou "hey, dude, do you have a gun?". Eu ri e respondi "claro que nao! Deveria?". Estranho estar em um pais em que essa pergunta nem sempre soa absurda. Mas o que mais esperar de uma nacao erguida das cinzas de um povo perseguido por milhares de anos? O que mais esperar de um territorio cercado de inimigos? A situacao as vezes me parece irreversivel.

sábado, 2 de agosto de 2008

Cristianismo

Antes de sair da cidade preciso fazer um post grande sobre as possibilidades do cristianismo Me espanta a variedade de igrejas que encontro aqui -- no Santo Sepulcro , por exemplo, ha romanos, gregos, armenios, sirios, egipcios e etiopes, cada um ocupando um espaco especifico. Minha predileta e a parte etiope, com a tinta descascando da madeira, as cruzes dos templarios e a pintura do encontro da rainha de Saba com o rei Salomao -- deste casal descenderia a familia real da Etiopia.

Mas ha MUITO o que se falar e ainda nao sei exatamente por onde comecar. Por ora, vou deixa-los com agua na boca.

Possibilidades cristas - Fotos

Gregos ortodoxos na entrada da prisao de Jesus, no Santo Sepulcro

Uma de minhas fotos prediletas a viagem -- na parte etiope do Santo Sepulcro

Quando o Santo Sepulcro foi dividido entre os cristaos, os etiopes ficaram com o telhado

Cruzes na Via Dolorosa, proximo a uma igreja copta (egipcia)

Mais um dia

Chronos
Agora o tempo passa rapido. Minha viagem esta em uma contagem regressiva que comeca hoje no dez e aos poucos chegara ao zero. Comeco a pensar as coisas que ainda tenho que ver e as horas parecem insuficientes. Engracado como a situacao pode sempre se reverter...

... ou ser inversa -- tenho passado o tempo com os voluntarios que conheci por meio da Delphine e me parece que eles, ao contrario de mim, nao aguentam mais estar sempre com alguem e tudo o que querem e estar sozinhos. Nao sai da minha cabeca a imagem da Libra do zodiaco, uma grande balanca que pende ora para um lado, ora para o outro, e sempre buscamos o equilibrio dos seus pratos de ouro.

Criancas
Eu nao havia falado nada sobre as criancas da Cisjordania porque queria, antes, conversar com a Ana e a Eli -- que sao professoras de espanhol e lidam com essa idade constantemente. Lhes perguntei se e normal que uma crianca daquela idade bata em voce e cuspa na sua cara quando voce tenta conversar com ela. Elas me disseram que de forma alguma -- o normal e que elas fiquem envergonhadas quando estrangeiros entram em suas salas de aula com cameras fotograficas.

Fico pensando porque, entao, aquelas criancas agiram tao agressivamente quando nos viram. Sera que estao cansadas de se sentir num circo, cercadas por pessoas que se apiedam delas? Ou sera que nao podem gastar a energia que tem, ja que as ruas sao campos de batalha? Ou sera que tudo o que receberam ate hoje foi violencia verbal e fisica e essa e a unica linguagem que conhecem? Talvez queiram mostrar como sao fortes, como sugeriu a Eli. Nao sei. Mas tenho medo do que pode acontecer quando essas criancas se tornem adultas e seus punhos nao sejam mais de brinquedo -- sejam misseis qassam e metralhadoras semi-automaticas.

De volta a casa
Nao sei porque me sinto tao bem em Jerusalem. O tempo passa tranquilo, aqui, e sempre ha uma novidade a se ver -- hoje fui a Igreja do Santo Sepulcro pela terceira vez e descobri novos locais e novas experiencias. Sinto que a cidade e para ser vivida, e nao visitada, e me frustra saber que vou embora com uma impressao muito ingenua de tudo o que vi.

A Ana e a Eli disseram uma coisa bonita hoje de manha. "Quando voltei a Jerusalem me senti como se estivesse voltando para a minha casa". E mais ou menos o que sinto, tambem.

Convento
Estou dormindo estes dias no Convento das Irmas de Siao. Tenho um cubiculo muito agradavel e uma varanda com uma vista incrivel, alem de cafe da manha. Nao sinto falta do antigo albergue no portao de Jaffa -- nem das baratas insistentes que la habitam.

A holandesa
A Soskia faz parte do grupo de voluntarios e estava me contando sobre os seis meses que morou em Polvilho (zona oeste de Sao Paulo). Ela fala um pouco de portugues e morre de saudades da nossa comida. Falamos de feijoada, pao de queijo, leite condensado, churros, suco de fruta natural, doce de leite, brigadeiro, tapioca, pirarucu... e de repente me deu uma vontade louca de nunca mais comer pao com homus e falafel.

Jerosolimita
Quando comecei a pensar na viagem -- e no projeto de graduacao que deve ser consequencia dela -- meu plano inicial era passar um mes em Jerusalem e viver o cotidiano da cidade para, entao, me sentir um autentico jerosolimita. Hoje, almocando com a Ana e a Eli, sentados numa sombra qualquer e conversando sobre a vida, finalmente senti essa faisca de cotidiano maravilhosa -- comeco a sair da fantasia de turista e experimentar a cidade de outra forma.

Comprei docinhos arabes de pistache e, em dez minutos, vou subir as ruas que agora tao bem conheco -- nao me perco mais -- e sentar-me com as duas para come-los. Depois, queremos andar pelo mercado e talvez comprar coisinhas. Uma tarde agradavel (me lembro da frase da Mrs. Dalloway -- "como acordar de manha na praia").

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Mais fotos da Cisjordania

Torre de vigia no muro da Cisjordania

Eli, eu e Ana na Igreja da Natividade

O mercado de Hebron nao e tao movimentado quanto o de Jerusalem

Criancas na escola de Hebron, na associacao crista pela paz

Criancas nos mostram seus desenhos, num dos momentos mais tristes da viagem

Rapidinhas

Muros
Hoje andei pela cidade velha de Jerusalem, para rever algumas coisas e pensar mais a respeito desse lugar de que tanto gosto.

Foi quando a Valerie parou no meio do caminho, apontou para o lado e disse: "olhe, o muro". Pensei que estivesse falando do Muro das Lamentacoes, e lhe disse que nao, nao era aquele. "Nao, o outro muro". Para mim, entao, ela estava se referindo as muralhas da cidade antiga. Nao. A belga queria me mostrar, na verdade, o muro da Cisjordania, rasgando o horizonte.

Me parece bastante lamentavel que existam, em Jerusalem, tantos muros para se ver e para se pensar a respeito, todos eles com historias tristes -- o das lamentacoes e o que sobrou do antigo Templo de Herodes, as muralhas antigas foram construidas pelos conquistadores arabes e o da Cisjordania serve para manter os palestinos longe de Israel.

Lingua enrolada
O Pedro tem razao -- escrevi "Brazil" no post sobre a Cisjordania, na grafia dos norte-americanos. Deveras! Estou ha mais de vinte dias tendo que me comunicar em uma lingua que nao e a minha, e aos poucos estou transformando as duas em uma so. As vezes preciso colocar alguma coisa da Marisa Monte no MP3 player para me lembrar de como o portugues soa bem nos meus ouvidos .

Neurose
E incrivel como a neurose isralense com o terrorismo pode chegar a extremos e, assim, influenciar as pessoas ao redor. Hoje fui aos correios com a Ana, a Eli e a Valerie -- as duas espanholas queriam enviar para casa as coisas que compraram na Cisjordania. Com medo de enviar a si mesmas e, por isso, ter que responder a interrogatorios, colocaram um nome ficticio no remetente -- agora, estao com medo de carregar o comprovante de envio com o nome de outra pessoa. Depois, apagaram as fotos da camera fotografica e estao tirando novas fotos, para nao ter que explicar porque nao ha imagens no cartao de memoria da maquina.

Tudo isso me parece exagero, e nao pretendo chegar a isso, mas eu entendo completamente a preocupacao das duas. A Delphine mandou mensagens nos dizendo que teve que tirar a roupa antes de entrar no aviao -- uma humilhacao sem tamanho. Passaram, tambem, suas comidas no raio-x, alem de revistarem todas as suas malas.

Quando penso em neurose nao consigo deixar de pensar na histeria norte-americana durante a Guerra Fria. Talvez o componente estadunidense na historia do Estado de Israel tenha deixado suas marcas, ou talvez seja realmente desesperador manter um pais em uma regiao em que os demais habitantes juram risca-lo do mapa. Situacao dificil de julgar.

Na lanhouse
Assim como no Brasil, nas lanhouses de Jerusalem o publico mais cativo sao os jovens de nao mais de 10 anos de idade jogando games multiplayer de tiro -- como o controverso e popular Counter Strike, em que voce pode controlar ou um terrorista ou um esquadrao anti-terrorismo. Mas aqui me parece que submeter as criancas a essa formacao tenha um componente negativo a mais.

quinta-feira, 31 de julho de 2008

Igreja da Natividade



Igreja construida no local onde Jesus Cristo teria nascido -- adoro essas igrejas ortodoxas cheias de coisas penduradas em icones pintados nas paredes.

Na superficie

Peco desculpas por ser tao superficial a respeito dos aspectos historico-politicos da situacao aqui em Israel. Mas nao tenho tempo e nem me sinto muito preparado para discutir topicos tao delicados -- seria irresponsavel da minha parte. A ideia do blog e trazer as minhas experiencias e impressoes, e delas cada um pode fazer o que quiser e aproveitar como puder. OK?

Fotos da Cisjordania

Muro da Cisjordania

Colocando o dedo na ferida

A situacao pode sempre ser a inversa

Representante de uma associacao de mulheres palestinas -- acima, um retrato de Yasser Arafat

Ahmad, aluno da escola que funciona no predio da associacao crista pela paz

Ocupacao israelense em Hebron

Cisjordania

Hebron
Quando sai de casa prometi a minha mae que nao iria para areas de conflito. Mas, desde entao, ja estive na fronteira com o Libano, nas Colinas de Gola e no deserto do Sinai. Hoje, foi o dia de -- inesperadamente -- visitar a Cisjordania.

A Ana, a Elisenda e duas outras voluntarias (a Valerie e a Jordan) decidiram que queriam ir para a Cisjordania, mais especificamente Hebron e Belem. No inicio relutei, porque muitas coisas ja foram ditas sobre essas cidades, nem todas elas coisas boas.

Mas uma coisa e certa -- eu estaria andando na superficie do problema se so conhecesse Israel e ignorasse a situacao do territorio palestino. Como quero conhecer o coracao do problema, ou pelo menos saber onde fica, decidi respirar fundo e ir adiante. Foi otimo.

Muito do que se diz sobre Hebron e Belem e verdade, evidentemente. Mas a impressao final que temos e distorcida, algo como o que acontece quando vemos o noticiario sobre Sao Paulo ou Rio de Janeiro -- os habitantes locais sempre entendem o problema de uma forma diferente.

Hebron fica no centro da Cisjordania e contem a mesquita de Abraao, ou seja, seu tumulo e o de sua esposa Sarah -- o local e sagrado para o islamismo, o cristianismo e o judaismo (as religioes abraamicas).

Depois da criacao dos assentamentos israelenses na cidade, os palestinos foram expulsos de suas casas e hoje vivem uma vida muitas vezes dificil e degradante. Tivemos a sorte de encontrar, por acaso, uma associacao crista pela paz da regiao, e do telhado da construcao o simpatico voluntario John nos mostrou a cidade e explicou onde e porque a situacao fica tensa.

Vimos, por exemplo, uma escola de meninas palestinas que fica no meio da area ocupada por Israel. Quando estao indo estudar, algumas das alunas sao apedrejadas por israelenses.

Vimos tambem uma base militar israelense que era, antes, uma estacao de onibus. Nao podiamos fotografa-la, fomos advertidos de que os militares nos tomariam as cameras. Mesmo assim, fotografamos -- as escondidas.

Em uma das ruas principais do mercado, ha um tela para evitar que o lixo jogado pelas janelas dos assentados isralenses caia nas cabecas dos palestinos que trabalham nas ruas.

Nao quero cair no reducionismo maniqueista que vi em tantos os que me precederam nessa visita. Nem Israel nem os palestinos estao agindo simplesmente por ma fe, e o conflito e muito mais profundo do que cabe a mim analisar. Mas ver tanta podridao com os proprios olhos embrulha o estomago...

A tensao politica e marcante, e ajuda a esvaziar a cidade que, sem turismo, caminha em direcao a morte. O mercado, por exemplo estava vazio. As palavras da Ana ficam da minha cabeca "um mercado morto e um mal sinal para uma cidade". Realmente.

Hoje a presenca militar na cidade e forte, ja que ha algo como dez anos um israelense entrou na mesquita de Abraao e matou 29 muculmanos que estavam fazendo suas oracoes.

Visitamos a tal mesquita -- onde, alias, fomos muito bem recebidos -- e almocamos um falafel delicioso. Durante o almoco, um grupo de criancas passou por nos cantando uma musica que dizia, em arabe, "Palestina livre!". Uma palestina sentou-se conosco e falou que nao gosta nem do Hamas e nem do Fatah, mas acredita que a uniao dos dois partidos e necessaria para a paz. O dono do restaurante discordou, e disse apoiar o Fatah -- um desenho com o rosto de Yasser Arafat, falecido lider da Autoridade Palestina, enfeitava seu restaurante.

Depois, Jordan e Valerie voltaram para Jerusalem e eu, Ana e Elisenda decidimos ir para Belem.

Belem
Belem e uma cidade grande e bonita. Me lembra bastante Jerusalem, mas muito mais arabe. La, visitamos a Igreja da Natividade -- onde Jesus Cristo teria nascido. Como a maioria dos leitores sabe, nao sou religioso, mas foi uma experiencia muito tocante -- a fe das multidoes e sempre impressionante, e milhares de anos de historia nao podem ser ignorados nem mesmo pelos mais ceticos.

Na Igreja da Natividade conhecemos dois militantes pelos direitos humanos, o Andres e a Ana. Eles vem da espanha, o que significa que ultimamente tenho treinado o pouco de espanhol que sei -- meu professor vai ficar contente, quando eu voltar para o Brazil para minha prova de conclusao de semestre.

Juntos, andamos ate o checkpoint para sair da cidade e, consequentemente, para o muro da fronteira. O tal muro construido por Israel para isolar a Cisjordania por motivos de seguranca.

Incrivel.

O muro e enorme e corta a cidade agressivamente, como um insulto. Nele, estao diversas manisfestacoes artisticas contra a ocupacao israelense. Fotografei varias delas, principalmente as mais famosas.

Andamos pelo muro por 30min e, entao, cruzamos o muro. Foi horrivel ver como alguns militares israelenses traram os palestinos (de novo, nao quero cair em reducionismo, e portanto nao vou generalizar esse comportamento a todos os militares ou todos os israelenses). Uma senha de oitenta anos nao conseguia passar pelo checkpoint, porque nao entendia porque tinha que colocar a mao num leitor optico, e enquanto isso a responsavel pela fronteira gritava com ela por meio de uma caixa de som -- nem se via o rosto dela.

Ajudamos a senhora a atravessar a fronteira, e fiquei pensando em como e que alguem nao se envergonha de tratar as pessoas assim na frente de outras pessoas, principalmente estrangeiros.

Do lado de fora, uma multidao esperava sua vez de serem humilhados.

Voltamos para Jerusalem, a cidade antiga, e me sinto muito bem aqui. Acho que de todos os lugares que conheci nessa viagem longa Jerusalem e o mais interessante. E o mais dificil de entender, tambem.

Novas cores

A francesa
Ontem Tel-Aviv ganhou um colorido novo, com a chegada da Delphine. Nao fizemos nada de especial, mas foi otimo -- a busquei na rodoviaria, ela se instalou no albergue, caminhamos por Jaffa, pela cidade, jantamos, conversamos, vimos o por do sol na praia e as luzes da cidade se acendendo.

Me lembro de uma musica do Chris Garneau que diz "I didn't go to see the city/I went to see it around you" ("nao fui ver a cidade, mas ve-la ao seu redor", em ingles). Foi mais ou menos uma coisa assim. A Delphine e uma otima amiga que agora deve estar em Paris se preparando para passar alguns meses no Marrocos. Vou sentir saudades, porque todas as lembrancas que tenho dela sao boas.

Nostalgia
A noite, sentamos no terraco do Old Jaffa Hostel e ficamos vendo as fotos que tiramos em Jerusalem, quando passamos pela cidade pela primeira vez. As imagens agora me parecem retratos de um passado remoto, e a nostalgia bate com uma intensidade nova dentro de mim. A foto do por-do-sol no cemiterio do Monte das Oliveiras vai ser sempre uma imagem cheia de felicidade, para mim, e da dor que sempre acompanha uma felicidade passada.

Novos planos
Foi por meio da Delphine que fiquei sabendo que a Ana e a Elisenda (se lembram delas) estavam em Jerusalem e ficarao na cidade ate sabado a noite. Estao acompanhadas de outros voluntarios do campo de trabalho. Nao pensei duas vezes -- peguei o trem das 5h30 da manha e vim encontra-las. O que significa que estou em Jerusalem -- estou ficando bom nisso de mudar de planos drasticamente, surpreendendo os meus leitores que sempre esperam ler uma coisa e leem outra.

Mas Jerusalem e o dia de hoje ficam para o post seguinte.

Tel-Aviv a noite

Por-do-sol em Tel-Aviv -- eu e Delphine

terça-feira, 29 de julho de 2008

Justica seja feita

Ontem as 21h30 fui caminhar pela praia e pensar na vida. Eu tinha acabado de sair do cinema que fica no predio Opera Tower, onde funcionou o primeiro knesset (parlamento israelense). Assisti a Smart People, filme fraco mas interessante a sua maneira.

Sentei em uma pedra e fiquei olhando para as linguas do mediterraneo lambendo a areia da praia e percebi que estou sendo um pouco injusto com Tel-Aviv nos meus comentarios aqui no blog. A noite, com os calcadoes cheios de bares, pessoas e luzes, de repente entendi onde esta escondido o charme do tal coracao moderno de Israel -- e entendi em que ele e moderno, tambem.

Sentados nas pedras atras de mim, um grupo fazia musica usando tambores. Uma familia, um pouco adiante, assava carne em uma grelha. Namorados davam as maos e olhavam para o horizonte escurecido e para as poucas estrelas que venciam as nuvens e as luzes da cidade. Os mais energeticos faziam cooper ou andavam de bicicleta para gastar a energia que o dia de trabalho nao tinha dado conta de gastar.

Quanto a mim, caminhei devagar de volta para Jaffa, para o albergue, para o terraco, para dentro de mim, e entao para a minha cama. Acordei as 7h com a luz do sol entrando pelas janelas que nunca se fecham.

Em Tel-Aviv

Jornada
De Wadi Musa a Aqaba, na fronteira com a Jordania, foram 3h. Depois, cruzei a fronteira com a Joanna e a Ruth e consegui trocar meu ticket para Tel-Aviv, partindo imediatamente no onibus das 11h. As 16h30 cheguei ao albergue, fiz o check-in e sai para dar uma volta. Continuo surpreso com a calma e pequenez desta cidade que e o suposto centro moderno do Oriente Medio -- e decidi que logo que voltar ao Brasil eu vou passar um final de semana no Rio de Janeiro para me lembrar do que e uma praia de verdade.

De qualquer forma, estou feliz por estar em uma cidade facil, em que consigo encontrar internet, bares, cinemas e pessoas. Hoje devo assistir a um bom filme e beber cerveja na praia. Depois, vou voltar para o albergue e tentar arranjar companhia para os proximos dias -- meu plano e ficar aqui ate domingo, ja que Tel-Aviv e o lugar menos afetado pelo shabbath em Israel, e eu odeio quando as coisas fecham.

Amanha, a boa noticia e a chegada da Delphine, mesmo que seja por um dia so. Quero muito saber como foi o trabalho voluntario, no norte do pais. E tenho muita coisa para contar, tambem.

Movimento
Agora que estou longe de casa por 20 dias, estou comecando a entender melhor -- pelo menos um pouco -- o tema da viagem, tao caro a literatura e ao cinema. Fico pensando no Odisseu vagando pelo mundo sem telefone ou internet, sem noticias de casa e sem data para voltar.

Depois, me lembro dos filmes que, quando assisti, me trouxeram uma tristeza que, ate agora, eu nao sabia muito bem onde doia. Por exemplo, Encontros e Desencontros -- so de pensar no Bill Murray sozinho no Japao me da um aperto na garganta. Ou os recentes Na Natureza Selvagem e Um Beijo Roubado.

Queria entender por que, afinal, precisamos sair de casa, nos mover. Para onde queremos ir? Do que estamos fugindo? Por que temos pressa?

Cactus
As pessoas dizem que o israelense e como um cactus -- espinhento por fora, doce por dentro. Mas eu, por enquanto, nao observei nada que distinguisse os israelenses dos habitantes dos outros paises. Por todos os lugares em que estive as pessoas variavam entre mau e bom humor tanto quanto no Brasil ou qualquer lugar.

Border crossing
Mas talvez os espinhos estejam mais evidentes nas fronteiras do pais. Quando cruzei do Egito para Israel ou da Jordania para Israel tive que passar pelos famosos questionarios repetitivos. Em cada uma das vezes, respondi a pelo menos tres pessoas diferentes porque eu estava entrando em Israel. "Turismo" era a resposta padrao. Depois, precisei dar informacoes sobre as cidades que visitei e quero visitar, dizer se conheco alguem no pais, de onde conheco, quais sao seus nomes, etc etc etc, ate ser finalmente liberado.

Quando a direcao era a contraria (de Israel para o Egito e de Israel para a Jordania), fui bem recebido por militares que me perguntaram se eu gosto de futebol.

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Bob, o construtor

Amanha volto para Israel, e o Jerusalem Post ja esta falando em uma terceira intifada -- em vez de bombas, tratores. Da um certo aperto na boca do estomago. Recomendo este artigo relacionando os ataques ao personagem de desenho animado Bob, o Construtor (que saudades de cantar a musica-tema com a Carolzinha...).

Petra

Outback
Ontem passei a noite com uma companhia muito agradavel -- o John e a Fiona, ambos da Australia e com 24 anos. Eles namoram desde os 17 e estao viajando ha algo como cinco meses. Compraram um pacote turistico ao redor do mundo e, por enquanto, ja conheceram todo o sudeste asiatico e estao comecando a conhecer o Oriente Medio.

O John da aulas de mergulho em Melborne e a Fiona e gerente de uma cafeteria israelense. Dos paises que visitaram, o preferido foi a India. Eles acham que depois de 40 dias na India nenhum pais pode oferecer desafios a viajantes.

A Fiona esta com medo de voltar para casa e ver que todos seus amigos mudaram. Mas eu acho que, no final das contas, ela deve ter sido quem mais mudou.

De pedra
Acordei as 6h15, tomei um banho gelado -- praguejando horrores -- e encontrei o John e a Fiona na recepcao. Nos levaram de carro ate a entrada de Petra, onde comecamos nossa aventura de mais de 8h. Acho que foi o dia mais cansativo desde que deixei o Brasil.

Petra e uma cidade construida nas montanhas pelos nabateus ha dois milenios. Os nabateus controlavam, aparentemente, a rota de incenso que ia do Egito a Peninsula Arabica, e se tornaram bastante poderosos durante o imperio romano. Sua arquitetura tem um toque helenistico e romano sem deixar, porem, de incorporar um estilo proprio e bastante peculiar.

Grande parte do que ha hoje em Petra sao os templos e tumbas, todos esculpidos diretamente nas rochas -- as rochas sao de longe o mais interessante da cidade, com tantas cores e formas diferentes, indo do rosa ao laranja dependendo do local e da iluminacao. Das casas e demais construcoes, nao sobrou muita coisa.

A cidade havia sido abandonada ha mais de mil anos, depois de sucessivos terremotos e depois da rota do incenso ser transferida para o norte. As informacoes precisas nao tenho, porque essa historia e bastanet nova para mim, mas o interessante e que a cidade so foi redescoberta no sec. XIX por um aventureiro suico.

Certamente, andar por Petra foi muito mais interessante que pelo Monte Sinai e Masada, apesar de isso nao significar que as experiencias anteriores nao foram validas. As construcoes sao imensas e maravilhosas, aqui, e certamente merecem estar dentre as maravilhas da antiguidade. Nao sei se ofuscam as piramides, provavelmente nao, mas isso nao importa muito, no final das contas.

Petra esta recheada da primeira populacao local que aparenta ser genuina que vi nesta viagem. Beduinos moram em algumas das cavernas, tocam suas cabras e oferecem aluguel de mulas, cavalos e camelos para os turistas. Sao bastantes simpaticos e te chamam de "my friend", quando falam com voce. Comprei uma boneca de pano de uma velhinha muito interessante -- e praticamente o primeiro souvenir que compro em quase 20 dias, devido a falta de espaco na minha mala.

Quem estiver interessado em conhecer Petra deve ou estar bastante descansado, se quiser fazer tudo em um dia, como eu fiz, ou comprar o ticket duplo. Pessoalmente, prefiro fazer tudo em um dia, apesar do cansaco ser maior.

Das dezenas de atracoes do local, destaco tres. A primeira e famosa, porque apareceu no terceiro filme do Indiana Jones -- trata-se do Tesouro, uma construcao enorme que se revela ao visitante apos uma caminhada em um vale de montanhas altas. Tudo e gigante e a surpresa e sempre maior quando voce se lembra de que tudo aquilo foi esculpido na pedra embaixo do sol das arabias (alias, o sol e um grande problema e ajuda o cansaco a ganhar forcas).

A segunda recomendacao e o Lugar dos Sacrificios. Depois de uma bela escalada, voce consegue ter uma vista fantastica das montanhas em que a cidade foi construida. La, eram feitos sacrificios aos deuses pagaos dos nabateus, e ainda e possivel ver os canais por onde o sangue escorria.

Minha ultima sugestao e o Monasterio. Este esta apos uma LONGA subida em uma escada de mais de 800 degraus. Nao e para fracos ou reclamoes. Mas vale a pena. O Monasterio foi utilizado, centenas de anos depois, pelos bizantinos, e trata-se de um local magnificamente grande. Fiquei hipnotizado pela porta, tentando imaginar porque era tao grande -- talvez para dar passagem a deuses e espiritos hoje esquecidos.

Ha muitas outras coisas a se ver, e claro. O anfiteatro, por exemplo. Ou ate mesmo o museu de arqueologia, o que demanda uma certa concentracao para ler as explicacoes detalhadas. Mas, mais do que ver, o importante em Petra e sentir -- sentir as rochas mudando de cor conforme o sol, a imponencia da paisagem, a antiguidade do local, a tristeza de uma cidade-fantasma, a pobreza da populacao local, o sol escaldante. O cansaco.

As 16h, voltamos para a cidade.

Companhia?
Enquanto estavamos em Petra, fizemos amizade com duas nova-iorquinas, a Joanna e a Ruth. A Joanna e formada em literatura inglesa, mas nao sei o que a Ruth faz. Talvez voltemos juntos para Aqaba, amanha, para rachar um taxi para a fronteira com Israel. E, mais uma vez, dizer adeus -- mas acho que estou ficando bom nisso.

Fotos de Petra

Anfiteatro

As portas gigantes do Monasterio exigem respeito por parte do visitante

Ops, nao me lembro o nome dessa construcao -- alguma coisa a ver com os dois leoes, um de cada lado da porta. Tive que escalar as pedras, para chegar la.

Vendedora de bonecas e quinquilharias -- a foto nao faz jus ao personagem

Vista do Lugar dos Sacrificios

Eu!

O Tesouro

Beduino na entrada da cidade antiga