Hebron
Quando sai de casa prometi a minha mae que nao iria para areas de conflito. Mas, desde entao, ja estive na fronteira com o Libano, nas Colinas de Gola e no deserto do Sinai. Hoje, foi o dia de -- inesperadamente -- visitar a Cisjordania.
A Ana, a Elisenda e duas outras voluntarias (a Valerie e a Jordan) decidiram que queriam ir para a Cisjordania, mais especificamente Hebron e Belem. No inicio relutei, porque muitas coisas ja foram ditas sobre essas cidades, nem todas elas coisas boas.
Mas uma coisa e certa -- eu estaria andando na superficie do problema se so conhecesse Israel e ignorasse a situacao do territorio palestino. Como quero conhecer o coracao do problema, ou pelo menos saber onde fica, decidi respirar fundo e ir adiante. Foi otimo.
Muito do que se diz sobre Hebron e Belem e verdade, evidentemente. Mas a impressao final que temos e distorcida, algo como o que acontece quando vemos o noticiario sobre Sao Paulo ou Rio de Janeiro -- os habitantes locais sempre entendem o problema de uma forma diferente.
Hebron fica no centro da Cisjordania e contem a mesquita de Abraao, ou seja, seu tumulo e o de sua esposa Sarah -- o local e sagrado para o islamismo, o cristianismo e o judaismo (as religioes abraamicas).
Depois da criacao dos assentamentos israelenses na cidade, os palestinos foram expulsos de suas casas e hoje vivem uma vida muitas vezes dificil e degradante. Tivemos a sorte de encontrar, por acaso, uma associacao crista pela paz da regiao, e do telhado da construcao o simpatico voluntario John nos mostrou a cidade e explicou onde e porque a situacao fica tensa.
Vimos, por exemplo, uma escola de meninas palestinas que fica no meio da area ocupada por Israel. Quando estao indo estudar, algumas das alunas sao apedrejadas por israelenses.
Vimos tambem uma base militar israelense que era, antes, uma estacao de onibus. Nao podiamos fotografa-la, fomos advertidos de que os militares nos tomariam as cameras. Mesmo assim, fotografamos -- as escondidas.
Em uma das ruas principais do mercado, ha um tela para evitar que o lixo jogado pelas janelas dos assentados isralenses caia nas cabecas dos palestinos que trabalham nas ruas.
Nao quero cair no reducionismo maniqueista que vi em tantos os que me precederam nessa visita. Nem Israel nem os palestinos estao agindo simplesmente por ma fe, e o conflito e muito mais profundo do que cabe a mim analisar. Mas ver tanta podridao com os proprios olhos embrulha o estomago...
A tensao politica e marcante, e ajuda a esvaziar a cidade que, sem turismo, caminha em direcao a morte. O mercado, por exemplo estava vazio. As palavras da Ana ficam da minha cabeca "um mercado morto e um mal sinal para uma cidade". Realmente.
Hoje a presenca militar na cidade e forte, ja que ha algo como dez anos um israelense entrou na mesquita de Abraao e matou 29 muculmanos que estavam fazendo suas oracoes.
Visitamos a tal mesquita -- onde, alias, fomos muito bem recebidos -- e almocamos um falafel delicioso. Durante o almoco, um grupo de criancas passou por nos cantando uma musica que dizia, em arabe, "Palestina livre!". Uma palestina sentou-se conosco e falou que nao gosta nem do Hamas e nem do Fatah, mas acredita que a uniao dos dois partidos e necessaria para a paz. O dono do restaurante discordou, e disse apoiar o Fatah -- um desenho com o rosto de Yasser Arafat, falecido lider da Autoridade Palestina, enfeitava seu restaurante.
Depois, Jordan e Valerie voltaram para Jerusalem e eu, Ana e Elisenda decidimos ir para Belem.
Belem
Belem e uma cidade grande e bonita. Me lembra bastante Jerusalem, mas muito mais arabe. La, visitamos a Igreja da Natividade -- onde Jesus Cristo teria nascido. Como a maioria dos leitores sabe, nao sou religioso, mas foi uma experiencia muito tocante -- a fe das multidoes e sempre impressionante, e milhares de anos de historia nao podem ser ignorados nem mesmo pelos mais ceticos.
Na Igreja da Natividade conhecemos dois militantes pelos direitos humanos, o Andres e a Ana. Eles vem da espanha, o que significa que ultimamente tenho treinado o pouco de espanhol que sei -- meu professor vai ficar contente, quando eu voltar para o Brazil para minha prova de conclusao de semestre.
Juntos, andamos ate o checkpoint para sair da cidade e, consequentemente, para o muro da fronteira. O tal muro construido por Israel para isolar a Cisjordania por motivos de seguranca.
Incrivel.
O muro e enorme e corta a cidade agressivamente, como um insulto. Nele, estao diversas manisfestacoes artisticas contra a ocupacao israelense. Fotografei varias delas, principalmente as mais famosas.
Andamos pelo muro por 30min e, entao, cruzamos o muro. Foi horrivel ver como alguns militares israelenses traram os palestinos (de novo, nao quero cair em reducionismo, e portanto nao vou generalizar esse comportamento a todos os militares ou todos os israelenses). Uma senha de oitenta anos nao conseguia passar pelo checkpoint, porque nao entendia porque tinha que colocar a mao num leitor optico, e enquanto isso a responsavel pela fronteira gritava com ela por meio de uma caixa de som -- nem se via o rosto dela.
Ajudamos a senhora a atravessar a fronteira, e fiquei pensando em como e que alguem nao se envergonha de tratar as pessoas assim na frente de outras pessoas, principalmente estrangeiros.
Do lado de fora, uma multidao esperava sua vez de serem humilhados.
Voltamos para Jerusalem, a cidade antiga, e me sinto muito bem aqui. Acho que de todos os lugares que conheci nessa viagem longa Jerusalem e o mais interessante. E o mais dificil de entender, tambem.
Quando sai de casa prometi a minha mae que nao iria para areas de conflito. Mas, desde entao, ja estive na fronteira com o Libano, nas Colinas de Gola e no deserto do Sinai. Hoje, foi o dia de -- inesperadamente -- visitar a Cisjordania.
A Ana, a Elisenda e duas outras voluntarias (a Valerie e a Jordan) decidiram que queriam ir para a Cisjordania, mais especificamente Hebron e Belem. No inicio relutei, porque muitas coisas ja foram ditas sobre essas cidades, nem todas elas coisas boas.
Mas uma coisa e certa -- eu estaria andando na superficie do problema se so conhecesse Israel e ignorasse a situacao do territorio palestino. Como quero conhecer o coracao do problema, ou pelo menos saber onde fica, decidi respirar fundo e ir adiante. Foi otimo.
Muito do que se diz sobre Hebron e Belem e verdade, evidentemente. Mas a impressao final que temos e distorcida, algo como o que acontece quando vemos o noticiario sobre Sao Paulo ou Rio de Janeiro -- os habitantes locais sempre entendem o problema de uma forma diferente.
Hebron fica no centro da Cisjordania e contem a mesquita de Abraao, ou seja, seu tumulo e o de sua esposa Sarah -- o local e sagrado para o islamismo, o cristianismo e o judaismo (as religioes abraamicas).
Depois da criacao dos assentamentos israelenses na cidade, os palestinos foram expulsos de suas casas e hoje vivem uma vida muitas vezes dificil e degradante. Tivemos a sorte de encontrar, por acaso, uma associacao crista pela paz da regiao, e do telhado da construcao o simpatico voluntario John nos mostrou a cidade e explicou onde e porque a situacao fica tensa.
Vimos, por exemplo, uma escola de meninas palestinas que fica no meio da area ocupada por Israel. Quando estao indo estudar, algumas das alunas sao apedrejadas por israelenses.
Vimos tambem uma base militar israelense que era, antes, uma estacao de onibus. Nao podiamos fotografa-la, fomos advertidos de que os militares nos tomariam as cameras. Mesmo assim, fotografamos -- as escondidas.
Em uma das ruas principais do mercado, ha um tela para evitar que o lixo jogado pelas janelas dos assentados isralenses caia nas cabecas dos palestinos que trabalham nas ruas.
Nao quero cair no reducionismo maniqueista que vi em tantos os que me precederam nessa visita. Nem Israel nem os palestinos estao agindo simplesmente por ma fe, e o conflito e muito mais profundo do que cabe a mim analisar. Mas ver tanta podridao com os proprios olhos embrulha o estomago...
A tensao politica e marcante, e ajuda a esvaziar a cidade que, sem turismo, caminha em direcao a morte. O mercado, por exemplo estava vazio. As palavras da Ana ficam da minha cabeca "um mercado morto e um mal sinal para uma cidade". Realmente.
Hoje a presenca militar na cidade e forte, ja que ha algo como dez anos um israelense entrou na mesquita de Abraao e matou 29 muculmanos que estavam fazendo suas oracoes.
Visitamos a tal mesquita -- onde, alias, fomos muito bem recebidos -- e almocamos um falafel delicioso. Durante o almoco, um grupo de criancas passou por nos cantando uma musica que dizia, em arabe, "Palestina livre!". Uma palestina sentou-se conosco e falou que nao gosta nem do Hamas e nem do Fatah, mas acredita que a uniao dos dois partidos e necessaria para a paz. O dono do restaurante discordou, e disse apoiar o Fatah -- um desenho com o rosto de Yasser Arafat, falecido lider da Autoridade Palestina, enfeitava seu restaurante.
Depois, Jordan e Valerie voltaram para Jerusalem e eu, Ana e Elisenda decidimos ir para Belem.
Belem
Belem e uma cidade grande e bonita. Me lembra bastante Jerusalem, mas muito mais arabe. La, visitamos a Igreja da Natividade -- onde Jesus Cristo teria nascido. Como a maioria dos leitores sabe, nao sou religioso, mas foi uma experiencia muito tocante -- a fe das multidoes e sempre impressionante, e milhares de anos de historia nao podem ser ignorados nem mesmo pelos mais ceticos.
Na Igreja da Natividade conhecemos dois militantes pelos direitos humanos, o Andres e a Ana. Eles vem da espanha, o que significa que ultimamente tenho treinado o pouco de espanhol que sei -- meu professor vai ficar contente, quando eu voltar para o Brazil para minha prova de conclusao de semestre.
Juntos, andamos ate o checkpoint para sair da cidade e, consequentemente, para o muro da fronteira. O tal muro construido por Israel para isolar a Cisjordania por motivos de seguranca.
Incrivel.
O muro e enorme e corta a cidade agressivamente, como um insulto. Nele, estao diversas manisfestacoes artisticas contra a ocupacao israelense. Fotografei varias delas, principalmente as mais famosas.
Andamos pelo muro por 30min e, entao, cruzamos o muro. Foi horrivel ver como alguns militares israelenses traram os palestinos (de novo, nao quero cair em reducionismo, e portanto nao vou generalizar esse comportamento a todos os militares ou todos os israelenses). Uma senha de oitenta anos nao conseguia passar pelo checkpoint, porque nao entendia porque tinha que colocar a mao num leitor optico, e enquanto isso a responsavel pela fronteira gritava com ela por meio de uma caixa de som -- nem se via o rosto dela.
Ajudamos a senhora a atravessar a fronteira, e fiquei pensando em como e que alguem nao se envergonha de tratar as pessoas assim na frente de outras pessoas, principalmente estrangeiros.
Do lado de fora, uma multidao esperava sua vez de serem humilhados.
Voltamos para Jerusalem, a cidade antiga, e me sinto muito bem aqui. Acho que de todos os lugares que conheci nessa viagem longa Jerusalem e o mais interessante. E o mais dificil de entender, tambem.
2 comentários:
DIOGO! VOCÊ PROMETEU!
Tudo bem, já voltou, e deu tudo certo. E, nossa, como valeu a pena!!!
Te amo
Hehehe que "muro" de texto qu você tem aí!! E escreveu "Brazil" com "Z", quanta gringueza!! Quero ver você se enrolando quando falar português quando voltar =)
abraços
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