sábado, 26 de julho de 2008

Ascencao

Quando o guia me buscou no Intercontinental, em Taba, e ficou sabendo que eu ia fazer o passeio de 12h sem ter dormido ele me deu uma bronca. "You're gonna kill yourself, you know?".

Eu sabia. Mas se nao fosse hoje, nao seria nunca, porque o passeio so acontece de sabados e quartas-feiras, e nao quero estar na fronteira no meio da semana -- Eilat me faz muito mal, nao me adapto a esse clima de cidade pequena costeira (ainda mais hoje, que e shabbath e tudo esta fechado!).

Bom, subir o Monte Sinai foi lindo -- preciso comecar dizendo isso. O grupo tinha, mais ou menos, 20 pessoas e cada um carregava uma lanterna. Subimos por 3h ate o topo da montanha, serpentando por caminhos e pedras. Nao eramos os unicos, e se olhassemos para tras veriamos um rio de luzes, quase como se fosse um engarrafamento.

No escuro, a paisagem se escondia de nos, e so podiamos adivinha-la pelas formas e sombras que, uma vez acostumados com a falta de luz, comecavamos a distinguir.

Alguns beduinos locais alugavam camelos para os preguicosos, e o cheiro de excremento e urina contaminava o ar, deixando tudo com um aroma azedo misturado a poeira levantada pelos nossos pes.

Quando chegamos ao topo, exaustos (eu, a cada minuto que passava, rezando para nao desmaiar de cansaco), estava um frio danado. Alugamos cobertores e ficamos esperando o sol preguicoso sair de detras das montanhas. O vento forte e gelado jogava poeira nos nossos olhos, e quem tentava fotografar com flash so capturava a imagem de graos flutuando no ar, refletindo a luz.

Finalmente, o horizonte pegou fogo, anunciando o rei que estava por vir. O ceu estrelado se pintou de um degrade de azul. Quando o disco laranja despontou no meio da neblina, a multidao bateu palmas, emocionadas. Peregrinos japoneses cantavam "aleluia".

Aos poucos, a paisagem finalmente se revelou e vimos as gigantes montanhas desgastadas, com rochas de formatos incomuns. Como em Masada, a vista era dramatica e emocionante -- principalmente dada a historia do lugar: la, Moises teria recebido os dez mandamentos.

Foram 1h30 de descida e logo nos enfiamos no Mosteiro de Santa Catarina, o mais antigo do mundo, do comeco da era crista. Um bom exemplo de tolerancia religiosa -- e sagrado para judeus, cristaos e muculmanos.

La dentro, esta a sarca ardente que Moises teria visto quando conversou com Deus. Perguntei ao guia se era possivel que fosse, realmente, a mesma planta, e ele me olhou com um olhar de desprezo horrivel.

Mas ele estava certo. Nao aprendi nada lendo a respeito de teologia. Com essa pergunta, misturei a dimensao da razao (logos) com a do mito (mythos) -- coisa que nao leva a lugar nenhum, no que diz respeito a religiao.

Na volta para Eilat, senti um pouco da solidao entrar em mim de novo. Entendi parte do motivo quando alguem no onibus comentou que o caminho so tinha "cidades fantasmas", ou seja, um monte de construcoes abandonadas ou nem mesmo terminadas. A sensacao que se tira de visoes como estas e aterradora.

Nao me dou bem com Eilat, como eu ja disse no comeco do post. Mas estou me forcando a ficar aqui, principalmente porque ainda quero ir a Petra. E porque quero vencer essas frescuras.

Hoje ate fui para a praia-balada -- em que vc nao consegue sentar ao sol sem ouvir a musica eletronica ensurdecedora e ver garconetes semi-nuas servindo os surfistas locais. Eu ja tinha sido advertido para nao vir para ca, mas fui teimoso.

O que salvou o dia, por incrivel que pareca, foi encontrar uma livraria aberta no shabbath. Conversei com o tadinho do vendedor, que teve que ouvir tudo o que nao falei nos ultimos dias, e depois comprei mais um livro (terminei de ler Giovanni's Room hoje.

A lanhouse acabou de abrir e ca estou eu. Espero conseguir colocar as fotos. Caso contrario, fica para uma proxima.

Acho que vou ter companhia para hoje a noite. Ha um canadense do meu lado e senti que temos o que conversar -- e uma pena que ele ja tenha ido a Petra, caso contrario poderiamos ir juntos.

Enfim. Desafiar os augurios!

(estou percebendo que o movimento aqui tem diminuido... Me digam do que voces sentem falta, mas nao me abandonem!).

4 comentários:

Charlie disse...

Grande Metatron! Parabéns pelo blog e pela experiencia. Li tudo o que vc escreveu e achei o maximo. Tenho uma amiga que vai sempre para Israel e me conta coisas fantasticas, assim como as historias que vc esta escrevendo. Gostei muito de como vc definiu Roma. Acho que nao teria jeito melhor de falar da cidade eterna. No caso de decidires passar pelo norte da Italia, espero uma visita sua! Abraço do amigo jornalista! James Dadam

sonia bercito disse...

Oi Di,
Também li a parte do livro da Karen Armstrong no qual ela diferencia o "logos" do "mythos". Acho que tem tudo a ver. Ajuda a dar sentido a algumas coisas, que parece que você busca entender.
Continuo adorando viajar com voce.
Beijos

Clare disse...

Esses guias são mto passionais e mau humorados, credo. Ou então eles em geral são legais, mas vc sabe como atrai pessoas esquisitas (como aquela chinesa louca, lembra, hauahauaha):P

Vc tirou a foto das lanternas no Sinai, né? Fiquei imaginando aqui como deve ter sido lindo.

E nhó, vc andou de camelo! ;*

Unknown disse...

É minha 1a vez e não consegui parar... tinha prometido para mim ler metade e trabalhar no restante da noite, mas não consegui!!!!