quarta-feira, 16 de julho de 2008

Yuval e as piscinas naturais

Hoje de manha encontrei o Yuval, amigo de uma colega minha de trabalho. Que cara legal! Nos pegou de carro no Portao de Jaffa e nos levou para conhecer a cidade. Ele e bastante culto e nos mostrou muitas coisas a respeito das quais os guias de viagem nao falam -- vilas arabes, marcas da guerra em algumas paredes da cidade extra-muros, fronteiras antes da guerra de 1948, arvores tipicas da Israel (na verdade, deveria usar o singular aqui -- a unica arvore realmente tipica aqui e a oliveira.

Yuval, 33, estudou direito, psicologia e estudos latinos na universidade de Jerusalem. Viajou por um ano pela America Latina e hoje e casado com uma argentina, a Daniela. Tem um filho de quatro meses chamado Iuli.

Politicamente, ele se define como esquerda. Ve Israel com ceticismo e conhece a historia do pais de cabo a rabo. Acha que os kibutzim sao instituicoes decadentes e que a juventude israelita passa muito tempo no computador.

Ele pensa, tambem, que e uma ilusao pensar que os judeus controlam todo o pais. Na cidade velha, por exemplo, os arabes tem bastante autonomia. Fiquei surpreso com as posicoes politicas moderadas dele -- para quem, alias, a religiao tambem nao tem muita influencia.

Yuval nos levou ate as fontes brancas (ein lavan, em hebraico), uma especie de piscina natural desconhecida pelos turistas. Fica na fronteira com a Cisjordania e pudemos ver uma barreira do exercito. La, ele recordou-se dos seus dias de meninice, quando nao havia tantos assentamentos e as pessoas nao conheciam aquele recanto -- ele comia figo no pe e nadava sozinho, com os amigos.

Seus antepassados vieram da Russia na primeira aliyah (imigracao de judeus para Israel, ou "ascencao", em hebraico), no fim do sec. XIX. Quando ele era pequeno, me contou, fazia bonecos do Aiatola Khomeini e queimava, numa especie de ritual voodoo. E pensa que os judeus precisam ter sempre um inimigo para se sentirem ameacados e, consequentemente, judeus.

O Yuval e bastante simpatico e prestativo. Foi muita sorte a nossa te-lo encontrado, hoje. Espero que possamos ve-lo outras vezes, antes de deixar esta cidade que aos poucos vai se tornando minha -- ainda que a apropriacao, para mim, nao seja religiosa, etnica ou politica. Simplesmente amor.

5 comentários:

Mari Desimone disse...

eu que quero ir para Jerusalém agora uhauhauahuahuah!!

Querido a sua viagem é puro auto-conhecimento, crescimento... não fique triste, sinta-se cada dia mais independente e autônomo, andando com as próprias pernas. Legal do jeito que você é, só há de encontrar pessoas como você para ajudar no caminho.
Beijo!!

Teresa Van Acker disse...

Eu também vou fazer o mesmo roteiro, acho que até nos mesmos albergues!!!!

A sua viagem está o máximo!!!!!

beijão

Unknown disse...

Seus relatos, como pode ser constatado nos comentários, estão carregados com tanta emoção que todos, como eu, estão com vontade de estar ai com você (fisicamente)

katia disse...

Nem sempre a tristeza é um sinal negativo. no seu caso, acho eu, ela é sinonimo de crescimento e auto conhecimto.
bjs

Unknown disse...

"os judeus precisam ter sempre um inimigo para se sentirem ameacados e, consequentemente, judeus." - se eu digo uma coisa dessas, é preconceito... Ainda bem que alguém pode dizer!!!