sábado, 19 de julho de 2008

Novos amigos

A Tereza, amiga de minha mae e assidua visitadora aqui do blog, tem razao -- a vida nos supre, sempre. Ontem a noite conversei bastante com o Mark e com o nosso novo companheiro de quarto, o Peter -- somos so nos tres, agora, e finalmente encontrei pessoas que gostam de conversar. Mas, ainda assim, sinto falta da Delphine. com quem eu realmente me identificava.

O Peter (na verdade, este e o nome cristao dele... o de nascimento nao consigo pronunciar) veio da antiga Birmania e tem 34 anos. Faz parte de uma minoria crista protestante, tem cabelo na altura dos ombros e pele bem escura. Fala ingles com um sotaque engracado (como o do Mark, alias).

Ele esta ha um ano em Israel, estudando a situacao politica do Oriente Medio na universidade de Beersheva, no sul do pais. No seu pais natal, ajuda no negocio da familia -- uma loja de roupas tipicas e joias. Se voce da corda para o Peter, ele nao para de falar sobre politica. Nao acredita na paz entre israelenses e palestinos e nao gostou de Tel-Aviv -- achou muito cosmopolita. Nao posso discordar a respeito de Tel-Aviv, porque ainda nao fui para la... Mas eu acredito na paz, ainda que isso possa soar ingenuo.

A noite, depois de tomar banho, fui checar se meu pijama estava embaixo do travesseiro. Estava. Alem dele, uma barata gigante -- a segunda neste albergue, alias. Fiquei em choque. Nao que eu tenha medo de baratas, quem me conhece bem se lembra de que eu criava aranhas -- mas e muito nojento dormir em cima de uma barata.

O que me deixou realmente com medo, porem, foi o Mark sacar um canivete gigante e matar a barata. Perguntei se ele tinha comprado a arma em Israel. Nao. Perguntei como ele passou pelos detectores de metal em cada esquina, pelos checkpoints, etc, e ele riu -- deixou dentro da cueca e ninguem checou. O mais cruel e que todos nos sabemos que, caso o Mark nao fosse branco e europeu, ele teria sido revistado de cima a baixo, como os palestinos que vejo todo dia sendo humilhados nas ruas da cidade velha pelos soldados desconfiados. E o Mark -- o europeu, o estudante de ciencia politica e blablabla -- esta aqui, com seu canivete, e pode fazer o que quiser com ele.

Enfim. A noite, andamos pela cidade vazia e maravilhosa e fomos a um bar bacana aqui perto do albergue. Queria ir la desde que cheguei, mas so ontem tive companhia. Tomamos cerveja, fumamos narguile e comemos falafel. A conversa foi um pouco chata, porque os dois nao paravam de falar sobre politica e ambos queriam mostrar que sabiam mais um do que o outro sobre o assunto -- o engracado e que os dois so deslizavam sobre a superficie do problema, caindo em todos os lugares-comuns que conheco. Estou cansado de politica, quero falar sobre o universo.

Mark com o narguile e Peter com o falafel

Eu sou tao caxias que me sinto subversivo fumando narguile...

As ruas do suq depois das 23h -- nao se iludam, havia dois soldados em cada esquina

O portao de Damasco a noite

4 comentários:

Teresa Van Acker disse...

Oi...

Sente-se subversivo fumando narguile? Ops... mas está até na moda aqui em S. Paulo já tem uns bares assim.
Eu nunca experimentei, mas tenho curiosidade, é bom?

bjs

Unknown disse...

Quanto custa um narguile?Que fumo usam? São iguais aos que estão usando aqui?

Mari Desimone disse...

Di querido!

Como vc tá? Amei o "me sinto subversivo" uhauhauhauhauh!!

Aproveite!

André disse...

Em Israel conversando com um cientista político deve ser difícil não falar de política xD