terça-feira, 15 de julho de 2008

Jerusalem III

Jerusalem continua crescendo dentro de mim sinestesicamente -- meu editor comentou no post anterior uma coisa que e verdade: vai ser impossivel esquecer os cheiros do mercado arabe (o tal "suq"). Ficarao tambem na minha memoria os sons dos cantos dos peregrinos carregando cruzes na Via Dolorosa, as texturas dos tapetes arabes, o sabor da scherma e do falafel e todas as coisas que vi aqui.

Hoje eu e Delphine fomos a basilica da Santa Ana (mae de Maria, portanto, avo de Jesus). Eu achei que fosse ser um passeio desinteressante. Me enganei. Ha tres basilicas -- duas em ruinas (a dos bizantinos e a dos cruzados) e uma do fim da Idade Media. A basilica mais recente traz o lugar de nascimento de Maria, mae de Jesus.

Foram as ruinas mais incriveis que vi desde o comeco da viagem. Tudo tao grande, tao antigo -- algumas colunas traziam a cruz dos templarios, foi emocionante sentar ali e observar, imaginar. Havia uma gruta romana com as chamadas "piscinas". Em uma delas, Jesus teria curado um homem paralitico -- sao chamadas aqui de Bethesda Pools.

Caminhamos pela Via Dolorosa, onde Jesus carregou a cruz, e fomos ate a Igreja do Santo Sepulcro -- da epoca dos bizantinos, se nao me engano. De tirar o folego. A fachada e maravilhosa, enorme, veneravel. E la dentro ha um labirinto de capelas coptas, gregas, armenias, romanas e sirias, todas convivendo pacificamente.

O Santo Sepulcro e lindo. E uma caverna cheia de lampadas ortodoxas e um padre ortodoxo te apressando. La dentro, o cheiro das velas era inebriante, e pude sentir a textura do tumulo de Jesus Cristo -- ou do que se pensa ser o tumulo de Jesus Cristo, o que, no final das contas, tem o mesmo valor simbolico e historico, acredito.

Tudo, na Igreja do Santo Sepulcro, e escuro e tem um ar de misterioso. Atraz do Santo Sepulcro ha uma pequena capela copta (cristaos egipcios) bastante interessante, cheia de velas e badulaques.

Os peregrinos sao um show a parte -- estao sempre cantando musicas em suas linguas. Encontrei todos os tipos, de todos os lugares. Me diverti explicando para a Delphine quais eram brasileiros e quais eram portugueses, baseado no sotaque, e ela ficou aliviada em poder falar em frances com os franceses que encontrou. Havia tambem bastantes hispanicos e italianos.

Ruas-labirinto

Nos perdemos de novo pelas ruas do bairro muculmano -- o mais baguncado, pobre e repleto de pessoas te pegando pelo braco para vender coisas, mas tambem o mais pitoresco. Almocamos schwerma, uma especie de churrasquinho grego servido em um pao sirio com vegetais.

Depois, viemos para o cyber cafe que adotamos como o nosso preferido. A medida que comecamos a conhecer as ruelas, estabelecemos pontos de referencia -- como o restaurante judeu em que comemos ontem no almoco e na janta (primeiro falafel, depois hamburguer de soja -- era um restaurante kosher).

O bairro judeu e bastante diferente do muculmano. As ruas sao mais residenciais e as pessoas aparentam mais ricas tambem. Ha muitos judeus ortodoxos com barbas e roupas pretas, alem do chapeu -- alias, comprei um kippah ontem de uma crianca chamada Khalid, no bairro muculmano(no bairro arabe voce encontra itens de todas as religioes, e bastante sincretico -- vimos, por exemplo, um crucifixo escrito em arabe.

Os judeus ortodoxos, quando passam pelo bairro muculmano, correm para sair de la o mais rapido possivel. Eles realmente correm, nao e forca de expresssao. Alguem nos disse que eles tem vergonha de passar por la, ou medo de serem ridicularizados.

No convento em que esta hospedada, a Delphine conversou com uma arabe que parece ser interessante. Ela trabalha na limpeza e depois volta para sua casa, em Belem -- por causa do muro, o marido dela nao consegue trabalhar em Jerusalem, entao ela precisa sustentar a ambos e aos tres filhos de cerca de 10 anos de idade. Queria conversar com ela.

As 17h (agora, sao 14h), vamos encontrar alguns voluntarios que irao com a Delphine para o norte do pais, trabalhar na reconstrucao de uma escola. Vamos tentar combinar com eles de irmos todos juntos para o Mar Morto e Masada. Vai ser uma experiencia bacana, acho.

Hoje vou colocar bastantes fotos. Espero que gostem.
A luz que entrava pelo teto e atinge o santo sepulcro era maravilhosamente difusa.

Ruas do suq

Padre ortodoxo na pedra do Golgota -- onde Jesus foi crucificado

Frente da Igreja do Santo Sepulcro -- tao imensa.

Eu sendo iluminado pela mesma luz que ilumina a tumba de Jesus Cristo

O nosso "churrasquinho grego" no bairro muculmano

Peregrinos na Via Dolorosa

As ruinas da Basilica de Santa Ana

6 comentários:

Tisf disse...

Dá pra ver um pouco o que é estar aí pelas fotos, mas estar ao vivo é uma sensação mil vezes mais foda né? A melhor foto foi aquela luz entrando, sem efeito nenhum, maravilhosa!

sonia bercito disse...

Quanta emoção! Adorei ver você "iluminado na foto".
Beijos,

Mari Desimone disse...

Di, amei as fotos, estão lindas!

Teresa Van Acker disse...

Diogo,

A sua descrição é uma delícia de ler. Dá uma vontade imensa de fazer esse roteiro.

Estou louca para ver fotos da parte copta, será que você tirou?

Beijos e sucesso!!!!

katia disse...

Nem preciso te perguntar se está td bem, dá pra ver.
Em outra vida aho que estive ligada aos lugares que voce está visitando,além de me identificar me sinto atraída por tudo sem saber muito a respeito e sem nunca ter visitado.
bjs

Unknown disse...

A cada dia suas descrições estão passando mais emoção, acho que você esta mais solto para receber estes sentimentos. Fiquei até com vontade de comer um churrasquinho...