sexta-feira, 18 de julho de 2008

Rapidinhas II

Terrorismo
Anteontem, tomamos suco de laranja e cenoura no restaurante do simpaticissimo Jamil. Eu esqueci de comentar aqui, na ocasiao. O Jamil tem quase 50 anos. E um arabe muito afetuoso, nos chamava de amigos e queria saber tudo sobre nossos paises. Reclamou que o terrorismo afugenta os turistas, o que prejudica toda a cidade velha -- de fato, as ruas estao sempre vazias, o que ele credita ao atentado do comeco do mes na Jaffa Road. "Para a politica, sou pequeno", declarou. E disse tambem que os arabes vivem melhor em Israel que na Cisjordania ou na Faixa de Gaza, e disso nao pode reclamar -- "la eles nao tem o que vestir, o que comer nem o que beber", disse, triste.

Shopping center
Anteontem a noite, encontrei um remedio para a solidao noturna -- o shopping center do portao de Jaffa. Parece bobagem, mas estar rodeado de pessoas e de vitrines foi um balsamo, para mim. Sentei em um cafe, comprei a revista Time desta semana e passei algumas horas la. O engracado e que a reportagemdo correspondente Andrew Lee Butters, que mora no Oriente Medio, era sobre como barganhar com arabes. A dica numero um dele e absolutamente verdadeira: no final das contas, os arabes vao ganhar o "jogo" -- afinal de contas, foram eles que o inventaram.

O suq
E dificil definir o suq (mercado arabe) da cidade velha, porque mesmo dentro dele ha inumeras diferencas, de acordo com a rua em que voce esta. Mas geralmente ha um vendedor sentado na porta -- voces ficariam surpresos com a idade de alguns deles, mais jovens que eu e tao bons negociantes -- e ele te chama para conhecer a loja dele, em ingles ("my friend, I want to invite you to know my store"). Voce pode comprar mapas, cartoes postais, roupas tipicas e turisticas, todos os tipos de objetos religiosos (cruzes, icones, menorah, kipah), especiarias, falafel, schwerma, paes, tapetes, veus, joias, artefatos de metal, eletronicos, frutas... Uma especie de 25 de marco, mas menos pasteurizada, talvez.

Mark, o holandes voador
Ontem a noite finalmente conversei com alguem no albergue que nao estivesse com cara de poucos amigos. O Mark, 22, veio da Holanda e esta viajando ha tres semanas. Esteve em Istambul e no Cairo, e me deu algumas dicas para o caso de eu viajar para o Egito -- inclusive o nome e endereco de um hotel bacana. Em seguida, vai para Moscou. Ficou surpreso que eu me sinta sozinho a noite e me disse que sempre encontra alguem para acompanha-lo -- talvez ele seja mais impatico que eu. Gosta muito de fumar narguile e se considera um expert, podendo identificar o sabor a uma grande distancia. Talvez saia com ele hoje a noite.

Exercito
Eu achei que eu seria revistado a cada cinco minutos aqui em Israel e que ver o exercito na rua seria assustador. Bobagem. Muito dificilmente eles pedem para que voce abra sua mala, e mesmo assim eles a revistam com desinteresse -- talvez estejam ficando cansados de tanta neurose ininterrupta.

Yuval e Daniela
Ontem a noite o Yuval me pegou de carro e me levou para sua casa, no bairro judeu fora dos muros. Ele e realmente muito hospitaleiro. Tomamos cerveja com a esposa dele, a Daniela, e ele me mostrou fotos da segunda guerra do Libano -- da qual ele participou. Me disse que os bombardeios, a noite, pareciam cenas de um jogo de videogame. Na unidade dele, contou, ele era o unico cetico a respeito da guerra. De madrugada caminhamos com a cadela vira-latas dele, a Lucy, e ele me mostrou o knesset (parlamento) e o monasterio da cruz. Jerusalem e uma cidade assustadoramente calma, e estou comecando a desejar estar logo no caos de Tel-Aviv -- que talvez me lembre de Sao Paulo e aplaque um pouco essa sensacao constante de estranhamento.

Cafe turco
Hoje de manha me despedi da Delphine com um cafe turco (delicioso e fortissimo) e baklawah (docinhos com pistache). O dono do local era grego e ficou feliz ao nos ver tentando ler a borra do cafe. Foi triste. Mas eu estou comecando a me acostumar com a ideia de seguir adiante. Talvez eu esteja me aproximando de uma metafora muito eficiente da vida -- as pessoas em e vao, mas nos sempre continuamos conosco. Se nao conseguimos lidar com o que somos e com o que podemos nos oferecer, o que temos?

Religiosidade
Hoje comeca o sabbah, o que significa que a partir do fim da tarde os judeus fecharao suas portas e irao rezar no muro das lamentacoes. Fui de manha olhar as preparacoes, ja esta lotado. E uma pena que eu nao possa fotografar, porque e proibido. Perguntei ao dono do mercadinho em que eu compro comida se ele ira fechar hoje a noite -- ele riu e me mostrou um crucifixo pendurado no pescoco (eu achava que ele fosse muculmano!). As 15h, havera uma caminhada de catolicos na Via Dolorosa, estou curiosissimo. Alem disso, nao tenho planos. Talvez ler, escrever, relaxar. Ou continuar a lamentar, que e uma coisa que faco excepcionalmente bem.

Um comentário:

Unknown disse...

"as pessoas em e vao".. parece AS PESSOAS EM VÃO... Ato falho?! Talvez... Pq no fundo, elas vem, elas vão... quase em vão.. pq, no fim, é VOCÊ! ;)